A Justiça do Distrito Federal determinou que o ex-secretário nacional de Segurança Pública e pré-candidato ao governo do DF, Ricardo Cappelli (PSB), apague uma publicação considerada ofensiva à Cooperativa dos Caminhoneiros Autônomos de Cargas e Passageiros (Coopercam). A decisão, expedida pela 21ª Vara Cível de Brasília, foi assinada pelo juiz Hilmar Castelo Branco Raposo Filho e impõe multa diária em caso de descumprimento.
A postagem de Cappelli, feita em sua conta oficial no Instagram, teria atribuído à cooperativa práticas irregulares, sem apresentar provas ou fundamentos objetivos. A Coopercam reagiu judicialmente, alegando que o conteúdo era difamatório e lesivo à imagem institucional, prejudicando a credibilidade de seus cooperados.
Na decisão, o magistrado destacou que o texto publicado pelo político tinha “caráter potencialmente ofensivo e generalizador”, e que a permanência do conteúdo nas redes poderia causar “dano irreparável ou de difícil reparação” à imagem da entidade. O juiz fixou multa de R$ 500 por dia, limitada a R$ 10 mil, caso a decisão não seja cumprida.
Além disso, Cappelli foi citado para responder ao processo, que inclui pedido de indenização por danos morais no valor de R$ 30 mil.
A decisão reacende um debate sensível no cenário político: até onde vai o direito de se expressar e onde começa a responsabilidade pelas palavras publicadas?
Ricardo Cappelli é conhecido por adotar um discurso combativo e direto, especialmente em suas redes sociais, onde costuma criticar adversários e comentar temas ligados à administração pública.
Entretanto, ao mencionar uma cooperativa formada por trabalhadores autônomos, sem apresentar documentos ou provas das alegações, Cappelli ultrapassou o limite entre crítica política e ofensa institucional.
Especialistas em direito digital e eleitoral afirmam que a decisão da Justiça não representa censura, mas uma medida de tutela preventiva, que busca preservar a honra e a reputação de terceiros — direitos igualmente garantidos pela Constituição.
Em tempos de pré-campanha, quando a disputa por atenção nas redes é intensa, publicações impulsivas podem se tornar armadilhas políticas, gerando desgastes que extrapolam o ambiente digital.
A determinação judicial contra Cappelli repercutiu rapidamente nos bastidores da política local. Para aliados, a medida é um revés pontual, mas administrável. Já para adversários, o episódio reforça a imagem de um pré-candidato com temperamento agressivo e pouco estratégico.
O caso também reacende a discussão sobre o uso das redes sociais como instrumento de ataque eleitoral, uma prática que, embora comum, pode se transformar em problema jurídico quando as críticas ultrapassam a fronteira do debate público e atingem a honra de instituições ou pessoas físicas.
A Coopercam, por sua vez, representa um setor relevante da economia do DF e Entorno, reunindo centenas de caminhoneiros autônomos. O episódio, portanto, ganha contornos ainda mais sensíveis, já que envolve uma categoria tradicionalmente organizada e de forte presença política.
O episódio de Ricardo Cappelli é mais do que um caso isolado — é um alerta. Em uma era de comunicação instantânea e de discursos inflamados, a palavra publicada tem peso jurídico e político.
Candidatos e lideranças que buscam espaço público nas redes precisam compreender que a responsabilidade é parte indissociável da liberdade de expressão. A crítica é legítima, mas deve estar amparada em fatos e evidências, não em suposições.
Cappelli, que tenta consolidar seu nome na corrida pelo Palácio do Buriti, enfrenta agora um desafio duplo: reparar o dano causado à cooperativa e reconstruir a própria imagem como figura pública. A forma como reagirá à decisão — se com humildade e diálogo, ou com enfrentamento — poderá definir muito do tom de sua campanha.
A decisão judicial que obriga Ricardo Cappelli a apagar o post ofensivo contra a Coopercam simboliza um novo ponto de atenção no ambiente político do Distrito Federal. O episódio mostra que o debate eleitoral precisa evoluir para além do embate verbal e se apoiar em argumentos responsáveis e éticos.
No jogo político, não basta falar mais alto — é preciso falar com base. E quando a Justiça é obrigada a intervir para restabelecer os limites do discurso, fica evidente que a era da política digital exige não apenas visibilidade, mas também discernimento e respeito.


