Há uma inquietante movimentação nos bastidores da política brasiliense. Personagens que protagonizaram alguns dos capítulos mais sombrios da história recente do Distrito Federal articulam, com impressionante naturalidade, o seu retorno ao palco eleitoral de 2026.
É a tentativa de reedição daquilo que se pode chamar, sem exagero, de uma “República dos Condenados” ,políticos com rostos conhecidos, processos volumosos e um passado que a história ainda não digeriu.
Liderando esse movimento estão Gim Argello e José Roberto Arruda, ambos com passagens notórias pela Justiça e pela prisão. O primeiro, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato, foi acusado de receber mais de R$ 7 milhões em propinas de empreiteiras para proteger executivos em CPIs. Cumpriu parte da pena até ver a sentença anulada em 2022. O segundo, ex-governador, protagonizou o escândalo do Mensalão do DEM, quando vídeos mostraram a coreografia explícita da propina. Cassado, preso e afastado da vida pública, agora ensaia o retorno, embalado pela nostalgia de um tempo que muitos preferem esquecer.
Mas o roteiro não para por aí. A eles somam-se Agnelo Queiroz, condenado por improbidade no escândalo do superfaturamento do Estádio Mané Garrincha, e Júnior Brunelli, o ex-deputado da célebre “oração da propina”, quando agradeceu em vídeo o dinheiro desviado como se fosse uma bênção divina.
É esse o elenco que tenta se reposicionar como alternativa política , vendendo promessas recicladas, discursos moralistas e a velha cantilena de que “erros foram cometidos, mas o tempo passou”.
Mas a verdade é que a sociedade brasiliense amadureceu.
O eleitor de hoje não é mais o mesmo que assistiu calado aos vídeos de propina ou às manchetes de prisões.
O que esses políticos tentam construir é uma narrativa de esquecimento, como se a anulação de sentenças significasse absolvição moral.Mas há um abismo entre o que a Justiça decide e o que a sociedade tolera.
O eleitor do DF tem diante de si um teste de memória e de responsabilidade.Porque a volta desses personagens só acontece se houver quem os aceite de volta.
E, pelo que se vê nas ruas e nas conversas, o cidadão brasiliense parece menos disposto a reviver o passado e mais atento a quem realmente merece confiança.
Em 2026, não será apenas uma eleição,será uma escolha entre o retrocesso e a lucidez,entre a lembrança e a omissão.


