O Hospital de Base do Distrito Federal passou a operar o primeiro aparelho de vídeo-eletroencefalograma (vídeo-EEG) da rede pública, marcando um avanço relevante na investigação de epilepsia e outras condições neurológicas. Considerado um dos métodos mais modernos da área, o exame combina o registro elétrico da atividade cerebral com monitoramento audiovisual contínuo, permitindo análises extremamente precisas.
O primeiro paciente a realizar o procedimento foi Eduardo Rodrigue Ferreira dos Santos, de 25 anos, acompanhado pelo HBDF desde a infância. Ele convive com crises convulsivas desde os 6 anos e nunca recebeu um diagnóstico conclusivo. Para ele, a tecnologia representa uma nova perspectiva: “Depois de tantos anos fazendo exames diferentes, finalmente podemos ter uma resposta. É uma esperança enorme conseguir controlar ou até interromper as crises”, afirma.
O vídeo-EEG exige que o paciente permaneça internado por cerca de cinco dias em um ambiente especialmente preparado para o monitoramento. Eletrodos instalados no couro cabeludo registram a atividade cerebral 24 horas por dia, enquanto câmeras — inclusive com visão infravermelha — e microfones acompanham todos os movimentos e sons. A integração desses dados permite identificar o tipo de crise e mapear, com precisão, as áreas do cérebro envolvidas.
Segundo o chefe da Neurologia do HBDF, André Ferreira, o novo recurso deve transformar a rotina de atendimento. “Esse exame mostra se o quadro realmente é epilepsia e qual o padrão das crises. Também ajuda a definir quem pode ser operado, o que, em muitos casos, significa a possibilidade de eliminar completamente os episódios”, explica. Ele ressalta que, apesar de ser um procedimento de alto custo, o investimento traz retorno a médio e longo prazo: “Quando o diagnóstico é preciso e a cirurgia é indicada cedo, o impacto econômico e social ao longo dos anos é muito menor. Sem falar no benefício ao paciente, que pode viver sem crises.”
Esse é justamente o desejo da família de Eduardo. Para sua mãe, Selma dos Santos Moreira, o exame pode ser o início de um caminho mais leve para o filho. “Ele depende de alguém o tempo todo. Tem convulsões frequentes, corre risco de se machucar, não pode dirigir, trabalhar ou sair sozinho. A gente torce para que esse diagnóstico dê a ele mais liberdade”, diz.
Para viabilizar o serviço, o hospital adquiriu dois aparelhos de vídeo-EEG, cada um avaliado em R$ 400 mil, com recursos destinados pelo deputado distrital Jorge Vianna. Neste primeiro momento, os atendimentos estão direcionados a pacientes com determinação judicial, enquanto a Secretaria de Saúde e o IgesDF definem a ampliação do acesso para toda a rede.
Duas salas foram reformadas e receberam novos equipamentos, climatização reforçada, computadores e uma central de monitoramento. De acordo com o chefe de manutenção do HBDF, Robson Marques, tudo foi estruturado para garantir o funcionamento integral da tecnologia: “Fizemos as adaptações necessárias e deixamos tudo pronto para quando os aparelhos chegassem.”
A operação do vídeo-EEG também exigiu capacitação da equipe. Quatro técnicas de enfermagem passaram por treinamento específico, incluindo Maria Balbina dos Santos, que já atuava em procedimentos neurológicos. O curso, realizado ao longo de três semanas, abordou desde bases fisiológicas até aspectos técnicos do exame. “Participar desse processo é muito especial. A gente aprende muito e percebe a importância de oferecer um cuidado tão detalhado”, comenta.
Para o presidente do IgesDF, Cleber Monteiro, a chegada do vídeo-EEG consolida o Hospital de Base como referência em alta complexidade. “É uma tecnologia que amplia a precisão diagnóstica e oferece um atendimento mais completo às pessoas com doenças neurológicas. É um avanço significativo para o SUS no Distrito Federal”, afirma.
